Como você definiria um carro lindo, bom de dirigir e que não consome uma gota de combustível? Seria o automóvel perfeito? Ainda não foi dessa vez. Antes de rasgarmos elogios ao novo Megane E-Tech é preciso deixar claro que, apesar de ser o melhor Renault dos últimos anos, ele não chega tão perto da perfeição.
É lindo? Sim! Bom de dirigir e empolgante? Demais! Você não precisa chegar perto de um posto de gasolina? Só para calibrar os pneus! O Crossover 100% elétrico da Renault finalmente chegou ao Brasil trazendo o que de melhor a marca francesa tem e que há tempos não víamos por aqui. Esqueça o que você conhece de Kwid, Duster, Sandero ou Captur. Estamos falando aqui de um legítimo Renault, que fala francês.
Vamos começar pelo design, que indiscutivelmente é o ponto menos polêmico do novo Megane. Passamos mais de um mês testando o modelo na chamativa cor “rouge flamme”, ou vermelho chama, com teto preto Étoilé (veja nas fotos). Ela não é oferecida aos clientes da Renault do Brasil (uma pena). Por aqui, apenas dois tons de cinza e um azul estão disponíveis, sempre com o teto em preto brilhante.
O design é ponto menos polêmico do carro francês simplesmente porque ele é lindo. Das muitas pessoas que abaixaram o vidro no trânsito ou gritaram das calçadas perguntado: “Que carro é esse”? Quase sempre completavam com um: “É lindo demais. Parabéns”.
É assim que um dono de Megane deve se sentir dirigindo todos os dias, em qualquer lugar do mundo. Orgulhoso. O desenho do carro é de uma harmonia rara de se ver nos desenhos automotivos atuais. A dianteira sensual cortada por vincos fortes e LEDs canta a mesma música da lateral e da traseira. O trabalho 3D feito no conjunto óptico traseiro merece uma nota digna do narrador da apuração do carnaval do RJ para a Viradouro: “NOTA… 10”.
Na cabine não é diferente. Apesar de a simplicidade ser um pouco mais aparente no interior, a esportividade transpira nos bancos, console e até no teto, que merecia ter uma janela ou, pelo menos, ser panorâmico, mas aí já é querer beirar a perfeição. Vamos com calma.
A conectividade sem fio é padrão e a central multimídia é a melhor que temos na Renault hoje. Apesar de ser menor do que a das versões mais caras do Megane na Europa, a nossa de 9 polegadas é fácil de usar e tem um belo grafismo. Só não é mais bonita que o cluster digital de 12,3 polegadas, que se apresenta de variadas formas, dependendo do modo condução que você escolher (Comfort, Eco ou Sport).
Mas é a aqui na cabine que começam a aparecer os primeiros pênaltis, ou pecados capitais, presentes no Megane. O teto solar seria um mimo que acrescentaria mais ao design do que qualquer funcionalidade. Mas um carro 100% elétrico de R$ 280 mil não pode deixar de ter o banco do motorista com ajuste elétrico. Isso é uma obrigação. Uma economia que chega ser bizarra nessa categoria de automóvel.
O mesmo pecado foi cometido pela Renault na tampa do porta-malas (440 litros), que precisava ter abertura e fechamento elétrico. Temos hoje carros elétricos ou híbridos que custam bem menos de R$ 200 mil com essa tecnologia, que não é nada de outro mundo, mas que faz diferença no dia a dia das pessoas.
Antes de falar do maior pecado do Megane vamos dizer como é dirigir o modelo. Como todo bom carro elétrico que se preze, o Renault tem saídas fortes com seus 30,6 kgfm de torque instantâneo. Mesmo optando pelo modo econômico, você consegue ter um desempenho satisfatório do crossover no trânsito.
Já se você não tiver problema para recarregar constantemente o seu elétrico e quiser sentir a esportividade a cada acelerada, basta colocar no modo Comfort ou, principalmente, no Sport. Daí você terá os 220 cv de potência disponíveis, permitindo que você chegue aos 100 km/h em apenas 7,4 segundos.
Para recarregar as baterias o Megane também é rápido. São 337 km de autonomia (pelo INMETRO) nas baterias de 60 kWh. Para carregar dos 15% até 80% da carga da bateria em DC 130 kW são necessários apenas 36 minutos e em um Wallbox de 22 kW leva 1h50.
Conseguimos fazer pouco mais de 380 km com o Megane na cidade, faltando ainda 16% para descarregar as baterias. Isso quer dizer que é possível chegar aos 400 km de autonomia no uso urbano, dependendo, claro, do modo de condução escolhido e da forma que você usa o pedal direito.
Como a perfeição já foi rechaçada para o Megane, podemos falar sobre seu maior pecado. Se você imaginou o preço, acertou. Com a nova realidade do mercado brasileiro imposta pelas gigantes chinesas, não cabe mais aquela conta que muitas montadoras faziam de jogar o preço lá em cima e ver se os brasileiros pagavam (geralmente pagavam).
Agora temos como comparar – o que é bom para os consumidores. Com R$ 280 mil hoje você tem boas opções de carros elétricos ou híbridos. Eles são bem equipados, com acabamento impecável e bonitos. Tudo bem que nenhum é mais bonito que o Megane (aqui é opinião pura e simples).
A Renault daria um tiro certeiro se conseguisse vender o novo Megane E-Tech por R$ 199 mil por aqui. Nesse valor, aqueles pecados seriam rapidamente perdoados e o modelo poderia disputar forte com os chineses, além de deixar as ruas brasileiras mais bonitas. Tenta aí, Renault.
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