Enquanto o mundo tenta eletrificar a frota de carros para reduzir as emissões de CO2, o governo brasileiro estuda uma proposta que vai na contramão de tudo isso. Chamado de IPI Verde, os carros abastecidos a etanol, gasolina e diesel podem ser beneficiados com uma mudança de tributos.
Segundo a tabela que a nossa reportagem teve acesso, os tipos de automóveis supracitados terão uma alíquota de IPI menor até que os veículos híbridos. Acredite! É desse jeito. Uma volta no tempo dos anos 1990.
Com isso, picapes a diesel pagariam até 10,1% do imposto. Percentual é menor, inclusive, do que o mínimo pago pelos carros híbridos movidos a gasolina – que partem de 11,5% e podem chegar até 17,5%.
LEIA MAIS
+ Multas no Carnaval: confira as infrações mais cometidas no período
Hoje, as caminhonetes pagam entre 14-19% de IPI, mas com a proposta essa alíquota ficaria entre 3,6% a 10,1% (valor máximo). Como assim?
Enquanto que os veículos movidos a combustão encerram o ano de 2023 com alta de 11,33%, os híbridos fecharam o mesmo período com 82% de crescimento, claro que eles não faziam parte da “festa”. Já os elétricos puros registraram aumento de 128% nas vendas de 2023. Um parte de mercado ainda pequena representando entre janeiro e dezembro, exatos 19.310 veículos elétricos (BEV) vendidos no Brasil. Alta de 56,2% comparado com o mesmo período de 2022.
Tributação por potência
Além da alíquota por combustível, o governo ainda estuda implementar a cobrança do IPI por potência. Porém, um motor com 100 cv não tem a mesma eficiência energética de uma máquina elétrica com 100 cv.
Um exemplo é o Haval H6 GT PHEV, que tem uma emissão de CO2 de 21 mg/kg e um motor com 393 cv de potência. Já uma Ram 1500 com 400 cv (potência próxima do Haval H6) tem uma taxa de emissão de CO2 de 327 mg/kg.
Com isso, fica claro que a cobrança por faixa de potência não é a forma mais sustentável para um programa verde. Pelo menos nesse caso ok? Do contrário qual seria o argumento?
Para os fabricantes de motores elétricos, a proposta é um erro e pode travar os propulsores e limitar a tecnologia, podendo trazendo de volta motores com tecnologia antiga. Lembrando que o mundo BEV irá fazer parte de todas as marcas, e no Brasil, certamente como parte menor do mercado. A corrente híbrida será muito maior.
Efeitos do IPI
Vale lembrar que na década de 1990, o governo federal chegou a reduzir o IPI para 0,1% com intuito de expandir o mercado. Na época, a redução do IPI surtiu efeito e a participação dos motores 1.0 subiu de 4,3% em 1990 para 39,7% em 1994. Agora, com a mudança na alíquota – em razão do chamado IPI Verde – todo um setor é prejudicado e o consumidor pagará a conta, uma vez que terá de se agradar com automóveis de propulsão com menor tecnologia e certamente redução de potência.