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Concorrência entre elétricos será prejudicada com taxação dos importados

Vou começar essa análise sugerindo um exercício de imaginação e suposição. Vamos imaginar um mercado automotivo nacional hoje sem a presença das marcas chinesas BYD e GWM. Como se ambas existissem mas nunca tivessem desembarcado por aqui. Será que a Renault, que acaba de iniciar as vendas de novo e belo Megane E-Tech por aqui, teria fixado o preço de R$ 279.900 pelo crossover?

Estamos citando a Renault, mas podemos fazer o mesmo exercício com outras marcas. A Volvo iniciou a pré-venda de seu novo SUV compacto 100% elétrico, o EX30, com preços entre R$ 220 mil e R$ 280 mil. Será que o estiloso utilitário esportivo sueco custaria esse preço se não houvesse o BYD Dolphin e GWM Ora 03, ambos sendo vendidos por R$ 150 mil?

As montadoras tradicionais de nosso mercado precisaram se adequar à nova realidade de precificação dos carros elétricos. Bom para nós consumidores. Para provar essa teoria nada complexa basta lembrar que há cerca de três anos nós tínhamos que pagar R$ 240 mil por um Renault Zoe ou R$ 265 mil por um Fiat 500e. São dois bons carros, mas são subcompactos com baterias com autonomia bem inferior às atuais.

Podemos citar outros modelos que desbravaram o mercado de elétricos no Brasil, como Nissan Leaf ou Chevrolet Bolt, que custavam lá atrás acima dos R$ 300 mil. A alternativa era se adequar ou deixar o mercado.

Arrisco em dizer que nesse cenário fictício sem os chineses eletrificados no Brasil, Renault Megane E-Tech estaria facilmente custando acima dos R$ 300 mil. Com o Volvo EX30 não seria diferente. Suas versões mais caras passariam desse patamar também.

Volvo EX30 não partiria de R$ 219.990 se não houvesse concorrência dos chineses. Foto: Divulgação

Muito por causa dessa nova realidade e a dificuldade das montadoras tradicionais de se adequarem a ela que as marcas representadas pela Anfavea pressionam o governo para a taxação de 35% nos veículos elétricos importados (que hoje são isentos).

Mas como assim? As mesmas montadoras que estão sendo beneficiadas pela isenção com seus modelos importados estão pedindo para serem taxadas? Não é bem assim. O que elas defendem (ou a maioria delas) é que as marcas que já têm fábrica em funcionamento no Brasil, mesmo que não produzam um veículo elétrico no país, tenham uma cota de carros elétricos com isenção. Só quem não tem fábrica teria a taxação cheia de 35% para todos as unidades importadas.

Vale ressaltar que BYD e GWM já anunciaram a construção de fábricas no Brasil com investimentos bilionários e que vão gerar milhares de empregos. Já a divisão de carros da Volvo não tem planta por aqui e deverá sofrer junto com as chinesas nesse primeiro momento se a taxação realmente foi confirmada – como tudo indica.

Diante dessa manobra da Anfavea podemos até adaptar um ditado popular nada ortodoxo e que não podemos repetir aqui a versão original: “Imposto no carro dos outros é refresco”.

 

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