A norma de segurança para estacionamentos públicos e privados, voltada à presença crescente de veículos eletrificados, está prestes a ser finalizada no Brasil. A expectativa é que a regulamentação (construída com a participação de entidades como ABVE, Corpo de Bombeiros, Sinduscon, Secovi, entre outras entidades) seja oficialmente apresentada entre julho e agosto, com apoio do governo de São Paulo.
A proposta surgiu após uma minuta divulgada pelo Corpo de Bombeiros de São Paulo, que gerou polêmica ao sugerir exigências como afastamento mínimo de cinco metros entre veículos elétricos, áreas isoladas de carregamento e instalação obrigatória de chuveiros automáticos. As medidas foram vistas com preocupação por entidades do setor, que alertaram para o risco de inviabilizar a eletrificação veicular no país.
“Esse primeiro movimento gerou muita insegurança. O carregamento, na verdade, é a etapa mais segura. Os equipamentos são dotados de sistemas de detecção de anomalias e desligamento automático”, explica o presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Ricardo Bastos, que tem liderado o diálogo com as entidades.
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Simulações e testes práticos
A proposta final da norma é fruto de 15 meses de trabalho técnico e simulações. Testes de queima controlada foram realizados com veículos a combustão e eletrificados, permitindo revisar procedimentos de emergência e confirmar que o distanciamento obrigatório não era necessário. “Mostramos, com base técnica, que não há necessidade de isolar os carros elétricos”, afirma Bastos.
Marcas como Volkswagen, GM e BYD também contribuíram com estudos práticos. A montadora chinesa, por exemplo, levou especialistas brasileiros para visitar centros tecnológicos na China.
A norma, no entanto, não será limitada aos veículos eletrificados. Ela estabelece diretrizes para todos os tipos de automóveis em estacionamentos fechados, como prédios residenciais, shoppings e garagens corporativas. Isso porque os riscos de incêndio não estão restritos aos carros elétricos: há casos registrados com modelos a combustão que também exigiram revisão de protocolos.
“A experiência internacional, de países como Noruega e Alemanha, mostra que itens como detectores de fumaça e exaustão em garagens subterrâneas são medidas universais de segurança predial, não apenas para veículos elétricos”, diz o presidente da ABVE.
O que a norma deve exigir
A nova norma prevê obrigações específicas para projetos novos e diretrizes adaptadas para edificações já existentes. Algumas das principais exigências incluem:
* Avaliação da infraestrutura elétrica antes da instalação de carregadores;
* Contratação de profissional técnico para atestar a compatibilidade da rede;
* Instalação de sistema de detecção de fumaça com alarme sonoro;
* Inclusão de itens como ventilação e exaustores em garagens subterrâneas;
* Em prédios novos, exigência de estrutura compatível para futura eletrificação.
Apesar das discussões iniciais, não será exigida a instalação de chuveiros automáticos (sprinklers) em edifícios antigos. Já os projetos novos deverão nascer preparados para receber esse tipo de sistema, especialmente se forem voltados ao público ou com grande circulação de veículos.
Uso adequado dos carregadores
Outro ponto abordado na norma é a distinção entre os tipos de carregamento. A recomendação será que os carros elétricos sejam carregados preferencialmente por meio de wallboxes, que possuem mais recursos de segurança, e não pelos carregadores portáteis emergenciais, que devem ser usados apenas em situações excepcionais.
“A norma é um grande ganho para a sociedade, pois aumenta a segurança sem criar barreiras à eletrificação. Ela foi construída com base técnica, diálogo amplo e sem disputas. Nosso objetivo é garantir segurança, viabilidade e previsibilidade para todos”, conclui Bastos.
A expectativa é que a norma técnica seja oficialmente divulgada nos próximos meses, com previsão de entrada em vigor ainda em 2025.